No município do Rio, cerca de 5,5 mil profissionais de saúde precisaram ser afastados por conta de Covid-19 ou influenza, desde dezembro. A baixa corresponde a cerca de 20% da força de trabalho da secretaria.
Em Belo Horizonte, onde há longas horas de espera em Unidades Básicas de Saúde e aumento da ocupação dos leitos de enfermaria e UTI, 487 trabalhadores pediram dispensa por doenças respiratórias no mês de dezembro. O número representa 4% do total dos quadros, segundo dados da secretaria municipal de Saúde.
Assim como na população em geral, o contágio provocado pela variante Ômicron, de alta transmissibilidade, caminha a passos largos nos serviços de saúde. Em Fortaleza, 506 profissionais estão com suspeita de Covid. Entre novembro e dezembro, foram 21 ocorrências. Entre dezembro e janeiro, o número saltou para 109 — ou seja, 419%.
Quarentena menor
A situação ganhou outros contornos com as novas regras para quarentena divulgadas pelo Ministério da Saúde na segunda-feira. A recomendação prevê a isolamento reduzido a cinco dias para pessoas assintomáticas, desde que haja teste negativo para a Covid. Na ausência de testagem, o prazo sobe para uma semana. Quem tiver sintomas deve cumprir o prazo anterior, de dez dias.
Recentemente, a França tomou uma decisão mais radical: permitir que profissionais de saúde infectados com o coronavírus com poucos ou nenhum sintoma continuem tratando os pacientes em vez de se isolarem. A medida tem caráter extraordinário, justamente destinada a diminuir o encolhimento de pessoal em hospitais durante explosão de casos da nova cepa.
Para o médico César Eduardo Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), a possibilidade de permitir que médicos infectados atendam ou reduzir o tempo de afastamento por cinco dias sem a necessidade de apresentar teste negativo para o retorno vai depender do cenário.
“Em situações extremas, isso seria uma possibilidade a ser discutida, mas não é o caso no momento. Embora eu já tenha relatos de que algumas equipes estão bastante desfalcadas, tomando o cenário geral, ainda não há colapso”, afirma Fernandes.
A Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) seguiu o exemplo francês e solicitou aos ministérios do Trabalho e Emprego e da Saúde, na última sexta-feira, que profissionais contaminados com Covid-19 não sejam afastados do trabalho caso estejam assintomáticos e tenham tomado a dose de reforço da vacina contra a Covid-19. Para os que apresentarem sintomas, a regra muda: o atestado deverá ser de cinco dias.
Nos Estados Unidos também houve redução do tempo de afastamento de profissionais de saúde, mas de forma menos drástica. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) permitiram que os assintomáticos retornem ao trabalho após sete dias, desde que apresentem teste negativo. O período pode ser reduzido ainda mais se houver escassez de pessoal. Além disso, aqueles que receberam as doses recomendadas da vacina não precisam ficar em quarentena após exposições de alto risco.
Sobrecarga
Para o diretor da ANAHP, o Brasil não enfrentará problemas como os da França.
“O esforço que estamos fazendo no sentido de tentar mobilizar a população a evitar a demanda desnecessária nos hospitais é exatamente para impedir que tenhamos problemas assim. Mas para que isso definitivamente não ocorra, é muito importante que a população tente etapas preliminares antes de ir aos hospitais”, defende Britto.